Rio Grande do Sul é o estado com maior parcela da população em grupos de risco da Covid-19

Rio Grande do Sul é o estado com maior parcela da população em grupos de risco da Covid-19

Cardiopatas, em particular, concorrem com pacientes de Covid-19 para ocupar leitos de UTI em hospitais

Gabriel Guedes

Em termos proporcionais, a maior concentração de pessoas com mais de 60 anos é verificadas aqui

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O Rio Grande do Sul tem 21,09% de sua população com ao menos uma doença crônica não transmissível, além de um contingente de idosos de 21,20%, conforme dados do MonitoraCovid, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Os gaúchos são os que mais estão expostos aos riscos associados a uma contaminação por Covid-19. Os dados também mostram que 2,57% dos moradores do estado possuem alguma doença pulmonar, e 7,99% têm diabetes. Já 25,34% das pessoas têm quadro de hipertensão e 5,32% possuem problemas de coração.

No Instituto de Cardiologia, em Porto Alegre, especialistas têm observado que com a pandemia, pessoas com doenças cardiovasculares estão chegando em pior estado devido ao atraso em chamar uma ambulância e o medo de procurar atendimento hospitalar. “As emergências diminuíram cerca de 70% dos atendimentos. Os infartos têm chegado tarde - ou nem chegado - até o hospital”, afirma a cardiologista do Instituto, Miriana Gomes.

Em caso de infarto quanto antes o paciente chegar até o hospital, mais chances de sobrevivência e menos sequelas. “Os cardiopatas não podem deixar de procurar as emergências em caso de dor no peito. A gente está escutando o tempo todo fique em casa, não saia de casa, mas outras doenças continuam existindo”, alerta Miriana.

Os pacientes cardíacos que chegam muito ruins e tardiamente ao hospital, segundo Miriana, evoluem pior do que aqueles que chegam com pouco tempo de sintomas. “Inclusive infartos com evolução tardia, quando não levam o paciente a óbito, exigem longo tempo no CTI (Centro de Terapia Intensiva). Em locais onde os leitos de infarto concorrem com os de coronavírus isso pode ser um problema grave”, avisa a médica.

No Instituto de Cardiologia, os casos de Covid-19 estão sendo encaminhados para outros centros de referência, para que o hospital siga restrito apenas a casos cardiológicos. Para evitar este sufoco, mais do que nunca o paciente deve manter o seu tratamento, recomenda Miriana. “Caso as receitas estejam vencidas, deve tentar com seu médico. Existe até  sistema online pra envio de receitas. Muitos colegas estão se colocando a disposição pra aqueles que não conseguem contato com seu médicos. Eu me ofereci no WhatsApp do meu grupo no condomínio e muitos outros estão seguindo essa linha”, conta.

Contudo, mais do que provocar uma corrida por leitos de UTI, a Covid-19 é um complicador para quem sofre de doença cardíaca. “Quem tem um coração fraco evolui pior do que quem tem um coração normal. Um cardiopata pode ter uma descompensação clínica global não só pelo coronavírus, mas por uma infecção urinária ou uma pneumonia. As infecções em geral causam aumento da frequência cardíaca e outras alterações na fisiologia que o cardiopata tem mais dificuldade de tolerar do que alguém jovem ou sadio”, explica a cardiologista. Há também uma associação com o coronavírus e miocardite, que é uma inflamação no coração. “Mas essa é menos comum”, assegura.

Mas se o cardiopata contraiu Covid-19, é importante levar sua receita com medicações de uso contínuo. “A partir da receita, o médico que vai atender na emergência já vai ter noção da gravidade da doença e também não deixará de prescrever medicamentos contínuos que possam ser importantes para manter o coração compensado”, destaca. Ela também orienta levar últimos exames como eletrocardiograma, ecocardiograma, cintilografia, cateterismo etc. “Se o paciente já esteve internado por problema cardíaco, pode levar a ‘nota de alta’ da última internação. Ali o médico faz um resumo de todos os procedimentos que foram feitos e fornece um ótimo panorama do estado atual do paciente”, sugere.

Além de manter com rigor os tratamentos, exames e visitas de rotina ao consultório do cardiologista, Miriana também alerta para a importância de reconhecer os sinais que o seu corpo dá. “O principal sintoma de um infarto é a dor no peito. Essa dor muitas vezes irradia para o braço esquerdo, mas ela também pode irradiar para os dois braços e até mesmo vir acompanhada de náuseas, sudorese e de cansaço”, descreve. Além disso a dor cardíaca também costuma piorar ao fazer algum tipo de esforço físico.


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